«Um grito pela qualidade! Porque precisamos de melhorar a Garantia para a Juventude»
Tradução literal de artigo original de Fórum Europeu da Juventude
Publicado pela Euractiv
A crise financeira e económica de 2008 está ainda muito presente na memória de cada um. Uma geração completa de jovens, com poucos empregos e falta de oportunidades, tem sido confrontada com um futuro incerto. Após tantos anos, o profundo e persistente impacto no desemprego de larga escala resultado dessa crise, ainda é perceptível. Com outro período de instabilidade económica a desenrolar-se, estará a Europa a fazer o suficiente para apoiar os jovens?
Nas próximas semanas, espera-se que o Conselho venha aprovar uma nova Recomendação para reforçar o programa Garantia para a Juventude, um programa europeu chave para o apoio de jovens na transição escola-trabalho. Apoiando cerca de 3,5 milhões de jovens todos os anos, a Garantia para a Juventude visa providenciar a todos os jovens boa qualidade na oferta de emprego, educação ou formação nos 4 meses seguintes ao desemprego ou abandono escolar. O Garantia para a Juventude é uma iniciativa ambiciosa que, se plenamente implementada, pode ter um enorme impacto na vida de muitos jovens na Europa. No entanto, o programa nem sempre cumpriu as suas promessas. Hoje, demasiados jovens encontram-se em situação de emprego mal remunerado e precário, como trabalho temporário, contrato «zero-horas» e estágios não remunerados. Por vezes, a Garantia para a Juventude até reforçou a tendência de trabalho precário entre os jovens.
Espanha, por exemplo, foi um dos países com maior taxa de desemprego jovem na Europa, com dados que demonstram que 7 em cada 10 jovens trabalham com contratos temporários. A baixa remuneração e a insegurança desses empregos tornam impossível aos jovens planear o seu futuro, constituir família ou comprar a sua primeira casa. Esta situação agravou também tornou a possibilidade de que percam o emprego durante a pandemia. Ao fomentar repetidamente ofertas de trabalho temporário, de baixa remuneração, aos jovens, o programa Garantia para a Juventude não representa realmente o apoio para uma transição sustentável da escola ao trabalho, como deveria.
O programa Garantia para a Juventude Reforçado, que os estados membros da União Europeia querem adoptar, propõe algumas mudanças importantes. Por exemplo, o novo programa tem agora como objectivo apoiar os jovens para o novo mundo do trabalho, construindo uma conexão mais forte à transição digital e economia verde; também reconhece a necessidade de alargar o escopo do programa a jovens até aos 30 anos, ao invés de 25 anos. Ao adensar-se a crise atual, o programa também visa uma identificação e apoio mais eficientes aos jovens mais vulneráveis.
Estas atualizações das medidas, embora muito apreciadas, falham em atuar num problema fundamental subjacente: a qualidade. O Reforço proposto ainda não responde à necessidade de empregos de melhor qualidade, de que os jovens e as organizações para a juventude têm apelado. A Recomendação aborda este problema, sugerindo que a qualidade das ofertas deve estar ligada às políticas da UE existentes, como o Quadro de Qualidade para os Estágios e o Quadro Europeu para a Qualidade e a Eficácia da Aprendizagem. No entanto, estes não são simplesmente suficientes.
O Fórum Europeu da Juventude desenvolveu Normas de Qualidade para a Garantia para a Juventude com recomendações sobre como essa medida pode garantir empregos mais estáveis, salários justos e condições para prevenir uso abusivo dos subsídios da Garantia para a Juventude por parte dos empregadores. Sob a Garantia para a Juventude, as normas de qualidade para as ofertas são amplamente aceites como uma melhoria das políticas necessária. Muitos manifestaram-se pela sua implementação ou propuseram normas que poderiam ser utilizadas, incluindo o Tribunal de Contas Europeu, a Confederação Europeia dos Sindicatos e a Organização Internacional do Trabalho (OIT). Recentemente, o Parlamento Europeu votou a favor de uma resolução histórica sobre a Garantia para a Juventude que apelava a normas de qualidade vinculativas e à proibição de estágios não remunerados.
A situação para os jovens está a tornar-se cada vez mais grave. As estatísticas do Eurostat sobre o desemprego jovem mostram que os jovens estão a ser duramente atingidos pela pandemia, com o desemprego jovem a aumentar de 14,9% para 17,6% entre Janeiro e Agosto – um aumento três vezes mais acelerado do que a taxa de desemprego geral. O estudo mostra que os períodos de desemprego durante a juventude deixam cicatrizes visíveis décadas depois, resultando em menor satisfação com a vida, menores rendimentos e maior risco de desemprego futuro.
O fracasso pode levar a uma geração “confinada” que pode prejudicar a carreira e o bem-estar dos jovens, bem como a sociedade, nas próximas décadas. Para prevenir isso, torna-se essencial que a Comissão Europeia e os governos nacionais acolham o apelo por padrões de qualidade para colocar a criação de empregos de qualidade e o apoio aos jovens no centro, não apenas da Garantia Reforçada para a Juventude, mas da própria recuperação.