Geração COVID: Como estão os jovens a trabalhar num mercado atingido por uma pandemia global

Por pactoempregojovem em

Tradução literal de artigo original de Fundação Thomas Reuters

Publicado pela Reuters.com

Adesola Akerele acabava de conseguir um estágio numa produtora de televisão em Londres quando o Coronavírus apareceu e a sua carreira de sonho desapareceu.

Mas apesar dos relatórios sobre os efeitos do confinamento e sobre tantos empregos e oportunidades de trabalho que desapareceram para milhões de jovens por todo o mundo, a jovem de 23 anos encontrou uma oportunidade de ouro – usando o período de confinamento para lança a sua carreira enquanto argumentista independente.

Generation COVID: How the young are working round pandemic-hit job market

by Nellie Peyton 

Akerele sempre tinha querido escrever sobre a experiência de ser Negra na Grã-Bretanha, e enquanto o movimento anti-racismo global se difundia no último ano, encontrou quem a quisesse ouvir.

“A pandemia deu-me algo que eu não tinha antes: tempo para escrever e desenvolver as minhas ideias”, disse ela à Fundação Thomas Reuters.

Desde adolescentes a codificar nos seus quartos a licenciados que rejeitavam trabalhos precários para abrir os seus próprios negócios, Akerele pertence à geração Covid – pessoas jovens que terão de inovar para entrar no mercado de trabalho em 2021, em contra das piores previsões.

Um em cada jovem parou de trabalhar desde que a pandemia Covid-19 se instalou, e cerca de metade adiou os seus estudos, de acordo com um inquérito elaborado pela Organização Internacional do Trabalho (ILO).

Especialistas dizem que é precoce saber ao certo como irá esta situação impactar a geração nas suas carreiras, mas é certo que o seu percurso no mercado de trabalho será pouco provavelmente convencional em 2021 e nos anos seguintes.

“Os jovens estão a tornar-se mais empreendedores e sonham tanto com uma carreira e emprego como com educação em formatos não-tradicionais”, diz Susan Reichle, presidente e CEO da International Youth Foundation.

“A oferta de primeiros empregos tradicionalmente disponíveis na indústria dos serviços, na indústria da hospitalidade, simplesmente não existem.”

Bhargav Joshi foi contratado no início do ano como Commis Chefe num sofisticado restaurante italiano em Bombaim. Quando foi dispensado por causa do Covid-19, levou as suas competências de chefe para a cozinha dos seus pais e abriu o seu próprio takeaway.

“Passaram-se cinco meses desde que comecei. Já consegui o break-even e isso é uma grande conquista para mim”, disse Joshi.

A mudança para o empreendedorismo e trabalhos temporários já acontecia entre jovens, mesmo antes da pandemia, que são três vezes mais afetados pelo desemprego quando comparado com pessoas com mais de 25 anos, de acordo com o ILO.

Com tanta procura para tão poucos empregos, a argumentista Akerele percebeu que iria beneficiar mais ao perseguir projetos independentes e trabalhos como freelancer do que ao enviar  currículos.

Em outubro, assinou com uma agência para trabalhar num programa televisivo sobre a experiência de jovens britânicos negros.

Reichle diz que falta a muitos jovens os meios para lançar as suas próprias empresas ou persistir nos seus projetos criativos, mas com mais apoios governamentais tal já seria possível.

Ferramentas Digitais

Kimberly-Viola Heita, 21, pensou que 2020 seria o ano em que entraria no curso de apresentadora de rádio e formaria uma nova sociedade política na Universidade da Namíbia.

Estava muito entusiasmada com as suas aulas e com os debates, mas quando o coronavírus forçou a escola a fechar, muitos dos seus colegas voltaram às suas casas no interior com acesso limitado à internet. O ensino à distância tornou-se um luxo.

Ao invés de se desconectar, Heita levou a sociedade de ciência política de cerca de 100 estudantes para a aplicação de mensagens WhatsApp, que se tornou uma fonte de debate, motivação e suporte, disse ela.

“2020 forçou-nos a inovar, colaborar e descobrir uma resiliência que não sabíamos ter”, disse Heita.

À medida que os empregos e a educação foram migrando para formatos online durante a pandemia, as competências digitais tornaram-se mais essenciais – uma tendência que naturalmente continuará, disse Drew Gardiner, um especialista sobre empregabilidade jovem no ILO.

“Os jovens querem muito ter competências de programação, de inteligência artificial, mas também assuntos mais simples, como trabalho remoto de tradução e edição”, disse ele.

Desenvolver tais competências não é sempre imediato, mas várias iniciativas estão a emergir a nível global para conseguir acompanhar as tendências. Aisha Abubakar, jovem de 33 anos do norte da Nigéria, participou no projeto piloto Click-On Kaduna, do World Bank, no ano passado. Este treinou jovens em marketing digital, gráficos e design, e em como aceder a trabalho remoto online.

Abubakar é uma designer de interiores, mas não sabia como encontrar clientes antes de ter feito este curso, disse ela.

Agora, o seu negócio floresce e ela também criou um programa de consultoria via WhatsApp para ajudar outras mulheres na sua comunidade a digitalizar os seus pequenos negócios.

Envolvimento da comunidade

Dos 12000 jovens inquiridos pela ILO, cerca de metade mencionaram ter sentido ansiedade e depressão desde o início da pandemia, sendo aqueles que perderam os seus empregos os mais afectados.

“A incerteza que a situação criou sobre a realidade dos seus futuros têm alertado para um problema grave,” disse Nikita Sanaullah, responsável sénior em políticas sociais e inclusão económica do Fórum Europeu para a Juventude.

Em muitos países europeus, os jovens têm dificuldade em aceder a apoios sociais, como subsídio de desemprego, pois ainda acumulam pouco tempo de emprego efetivo, disse Sanaullah. À medida que os jovens perdem os seus rendimentos, podem mesmo chegar a perder a sua habitação, disse ela.

“Isto era já um grande desafio, mesmo antes desta crise surgir”, disse, acrescentando que apesar das suas dificuldades, os jovens estão agora mais envolvidos em ativismo social.

Em São Francisco, James Poetzscher de 17 anos, encontrou uma forma original de ajudar, quando começou a desenvolver mapas de poluição do ar online.

Quando os incêndios deflagraram na Califórnia em Agosto, ele pegou no seu projeto e deu um passo além, construindo um portal de dados de qualidade do ar para ser usado por organizações governamentais e ONGs – desde o seu quarto.

Ele tem consciência de que encontrar um emprego será difícil, mas os seus planos são de dar continuidade às suas pesquisas sobre poluição do ar e alterações climáticas.

“Independentemente da idade, todos podemos fazer a diferença”, disse ele.

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