Discurso de 2021 sobre o estado da União proferido pela presidente Ursula von der Leyen
Excerto da tradução oficial do Discurso de 15 de setembro de 2021, Estrasburgo
tempo de leitura: 4 min
FORTALECER A ALMA DA NOSSA UNIÃO
Introdução
Senhor Presidente,
Senhoras e Senhores Deputados,
Muitas pessoas sentem que as suas vidas ficaram suspensas enquanto o mundo continuou a avançar rapidamente.
A rapidez dos acontecimentos e a magnitude dos desafios são por vezes difíceis de apreender.
Este tem sido, igualmente, um momento de balanço e introspeção. Das pessoas que reavaliam as suas vidas até aos debates mais amplos sobre a partilha de vacinas e valores partilhados.
Porém, quando recordo o ano que passou e olho para o presente estado da União, vejo uma alma forte em tudo o que fazemos.
Robert Schuman afirmou, em tempos: A Europa necessita de uma alma, de um ideal, e da vontade política para servir esse ideal.
A Europa deu vida a estas palavras nos últimos doze meses.
(…)
Fizémo-lo em conjunto, como Comissão, como Parlamento, como 27 Estados-Membros. Como uma só Europa. E podemos orgulhar-nos disso.
Mas os tempos do coronavírus ainda não chegaram ao fim.
Enquanto a pandemia perdura, a nossa sociedade continua a sofrer — profundamente. Há corações que nunca poderemos remendar, histórias de vida que nunca poderemos concluir e tempo que nunca poderemos devolver aos nossos jovens. Enfrentamos desafios novos e duradouros num mundo que recupera — e se fratura — de forma desigual.
Não haja dúvidas: o próximo ano voltará a pôr-nos à prova.
No entanto, creio que o nosso espírito — a nossa alma — só revela verdadeiramente o seu esplendor quando é posto à prova.
Quando olho para a nossa União, sei que a Europa irá passar este teste.
O que me dá essa confiança é a inspiração que podemos retirar dos jovens europeus.
Porque os nossos jovens deram significado a palavras como empatia e solidariedade.
Eles acreditam que temos uma responsabilidade para com o planeta.
E, embora estejam preocupados com o futuro, estão determinados em melhorá-lo.
A nossa União será mais forte se for mais semelhante à próxima geração: ponderada, determinada e solidária. Assente em valores e ousada na ação.
Este espírito será mais importante do que nunca nos próximos doze meses. Esta é a mensagem da Carta de Intenções que enviei esta manhã ao Presidente David Sassoli e ao Primeiro-Ministro Janez Janša para definir as nossas prioridades para o próximo ano.
(…)
Senhoras e Senhores Deputados,
Todos beneficiámos com os fundamentos da economia social de mercado europeia. Temos de assegurar que a próxima geração pode construir o seu próprio futuro.
Dispomos de uma geração de jovens altamente qualificados, extremamente talentosos e fortemente motivados. Uma geração que sacrificou tanto em prol da segurança dos outros.
A juventude é, normalmente, a idade das descobertas. A idade em que se vivem novas experiências. Em que se fazem amigos que ficam para toda a vida. Em que cada um descobre o seu próprio caminho. Porém, o que acabámos de exigir aos nossos jovens? Que mantivessem o distanciamento social, que continuassem confinados e que seguissem os seus estudos em casa. Durante mais de um ano.
Tudo aquilo que temos feito, desde o Pacto Ecológico ao Instrumento de Recuperação da União Europeia, visa proteger o futuro dos nossos jovens.
É por isso que este instrumento deve ser financiado por novos recursos próprios, sobre os quais temos vindo a trabalhar.
De igual modo, temos de garantir que não damos origem a novas falhas. Porque a Europa precisa de todos os seus jovens.
Importa prestar apoio a todos aqueles que se encontram excluídos. Aqueles que não têm emprego. Aqueles que não estudam nem seguem qualquer formação.
Para os jovens nessa situação, tencionamos propor um novo programa, intitulado ALMA.
Esse programa dar-lhes-á a possibilidade de terem uma experiência profissional temporária noutro Estado-Membro.
Pois também estes jovens merecem ter uma experiência como o Erasmus, para poderem adquirir competências, estabelecer contactos e criar a sua própria identidade europeia.
Contudo, se queremos efetivamente moldar a nossa União à sua imagem, os jovens devem poder moldar, eles próprios, o futuro da Europa. A nossa União precisa de uma alma e de uma visão de futuro com que os jovens se identifiquem.
Como também se interrogou Jacques Delors: Como poderemos construir a Europa se os jovens não a virem como um projeto coletivo e uma representação do seu próprio futuro?
É por esta razão que tencionamos propor que 2022 seja o Ano Europeu da Juventude. Um ano consagrado à valorização dos jovens que, por seu turno, já abdicaram de tanto pelo bem dos outros. E serão também os jovens a liderar os debates da Conferência sobre o Futuro da Europa.
Trata-se do seu futuro e, por isso mesmo, deve tratar-se da sua conferência.
Como foi referido no início do nosso mandato, a Comissão estará pronta a dar seguimento a tudo o que for decidido pela Conferência.
CONCLUSÃO
Senhoras e Senhores Deputados,
Reforçar o ideal europeu de Robert Schuman que invoquei anteriormente é um trabalho contínuo.
Não devemos esconder as nossas incoerências e imperfeições.
Por muito imperfeita que possa ser, a nossa União é deliciosamente única e unicamente bela.
É uma União que reforça a liberdade individual graças à força da comunidade.
Uma União moldada tanto pela história e pelos valores que partilhamos como pelas diferentes culturas e perspetivas que a integram.
Uma União com alma.
Não é fácil encontrar as palavras certas para expressar a essência deste sentimento. É mais fácil pedi-las emprestadas a alguém que nos inspira. Por isso, trago hoje uma convidada de honra para este espaço.
É possível que muitos já conheçam esta italiana, vencedora de uma medalha de ouro, que conquistou o meu coração este verão.
Porém, talvez não saibam que, em abril, ela recebeu a notícia de que tinha a vida em perigo. Foi sujeita a cirurgia, lutou e recuperou.
Apenas 119 dias depois de deixar o hospital, ganhou uma medalha de ouro nos Jogos Paraolímpicos. Senhoras e Senhores Deputados, acompanhem-me nas boas-vindas a Beatrice Vio. Bebe, embora ainda tão jovem, já ultrapassou muitos obstáculos.
A sua história é feita de uma luta contra as probabilidades. De sucesso baseado no talento, na tenacidade e num espírito positivo indomável. Ela é a imagem da sua geração: uma líder e uma defensora das causas em que acredita.
Alguém que conseguiu alcançar tudo isso por acreditar que, se parece impossível, pode ser feito. Se sembra impossibile, allora si può fare.
Este era o espírito dos pais fundadores da Europa e é, agora, o espírito da próxima geração europeia. Deixemo-nos inspirar por Bebe e por todos os jovens que mudam a nossa perceção do que é possível.
Que nos mostram que podemos ser o que quisermos ser. Que podemos alcançar tudo aquilo em que acreditamos.
Senhoras e Senhores Deputados,
Esta é a alma da Europa.
Este é o futuro da Europa.
Façamos com que se torne mais forte, em conjunto.
Leia o discurso integral aqui.
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